quinta-feira, 21 de março de 2013

Os segredos do logotipo da Apple

O logotipo da Apple é um dos logos mais famosos do mundo. Os fãs da Apple não só colocam este logotipo em seus veículos, para mostrar a sua lealdade, eles vão ao extremo de se tatuar com ele, um nível de dedicação que pouquíssimas marcas conseguiram em toda sua história! (Veja aqui uma galeria de fotos de pessoas tatuadas com o logotipo da Apple!). 

 
Admiração eternizada na pele
O logotipo da Apple é admirado por sua simplicidade e os muitos significados que as pessoas atribuem a ele. Ele é atemporal. Por 30 anos, tem sido inalterado e eu espero que pelo menos outros 30 passem antes que qualquer coisa drástica seja feita a ele.

Quando Jean Louis Gassée (executivo da Apple Computer 1981-1990) foi questionado sobre suas ideias para o logotipo da Apple, ele respondeu: Um dos mistérios mais profundos para mim é o nosso logotipo, o símbolo da luxúria e do conhecimento, mordido, todo cruzado com as cores do arco-íris na ordem errada. Você não poderia sonhar com um logotipo mais apropriado: luxúria, conhecimento, esperança e anarquia!

Há muitas teorias sobre este logotipo e muitas delas são apenas isso que você acabou de ler. Se você quer descobrir a verdade, leia a entrevista realizada pelo site Creativebits.org com Rob Janoff, o designer do logotipo original da Apple, que dirá tudo sobre o seu projeto.
Logotipo original da Apple
CB: Quando você projetou o logotipo original da Apple com as listras coloridas?
RJ: No início de 1977. A agência ganhou a conta (Apple) em algum momento de janeiro. O logotipo foi introduzido com o novo produto Apple II, em abril do mesmo ano.

CB: Você estava trabalhando para uma agência no momento?
RJ: Sim, eu estava trabalhando para uma agência de publicidade e relações públicas chamada Regis McKenna e eu era o diretor de arte.

CB: Você conheceu Steve Jobs?
RJ: Claro. A primeira vez deve ter sido no primeiro ano. Foi antes de ele começar sua empresa. Até então era só Steve Jobs, Steve Wozniak e Mike Markkula. Ele era o cara mais velho, que encurralou estes jovens empresários. E eu acho que foi pelo Mike Markkula que a conta veio para a nossa agência. Ele era amigo do meu chefe Regis McKenna.

CB: Você teve um briefing deles?
RJ: Na verdade não havia briefing. Mas uma coisa realmente engraçada, foi a única direção que recebemos de Steve Jobs: "não o faça bonitinho". Haviam briefings sobre os trabalhos subsequentes. Primeiro foi o logotipo, em seguida, houve um anúncio de lançamento e um catálogo de vendas para o lançamento futuro. Mas foi muito desperdício naquele momento.
Primeira versão do logotipo do Apple


Houve um logotipo anterior ao meu logotipo. Foi um logo feito por Ron Wayne, que foi parceiro dos dois Steves muito antes. Mais tarde, ele vendeu sua parte na parceria, porque ele estava um pouco preocupado com as obrigações financeiras que ele poderia ter. Ele tinha uma família e os outros caras não. Ron fez um desenho a caneta e tinta de Sir Isaac Newton sentado debaixo de uma macieira com um poema sob o horizonte. E, eu acho que quando Steve Jobs começou a levar a sério o Apple II e obter um protótipo para o design do projeto, ele percebeu que aquele logo não caberia. Por isso, ele precisava de um novo logotipo.

CB: Quantas versões que você fez para a apresentação?
RJ: Nós apresentamos duas versões do logotipo. Uma com e outra sem a mordida. Apenas no caso de ele pensar que a mordida havia ficado muito bonitinha. Felizmente, ele gostou da versão que tinha personalidade com a mordida. Francamente, você seria um acéfalo e perderia a marca se não utilizasse algum tipo de maça no logo. Quando eu apresentei o logo, mostrei diversas variações. Versão listrada, versão com cor sólida, versão metálica. Todos eles com a mesma forma.

CB: Então, você já sabia que precisava de uma versão de cor sólida e uma versão metálica?
RJ: Sim, você meio que tem que fazer. Quando você está fazendo a impressão em uma ou duas cores você precisa ter um caminho alternativo a percorrer e eu percebi que as listras nem sempre iriam conseguir. As listras realmente não funcionavam em tons de cinza.

CB: Será que as cores representam a cultura hippie, que estava em moda na época?
Steve Jobs
RJ: Parcialmente foi uma influência muito grande. Steve e eu viemos daquele lugar, mas a verdadeira razão para as listras era que o Apple II foi o primeiro computador pessoal que podia reproduzir imagens em cores no monitor. Por isso, ele representa as barras de cores na tela. Além disso, foi uma tentativa de fazer o logotipo muito acessível a todos, especialmente aos jovens, para que Steve pudesse colocá-los em escolas.

CB: Na época a maioria dos logos eram de uma cor única ou duas. Alguém foi contra as listras coloridas?
RJ: Steve gostou da idéia, porque ele gostava de coisas que estavam fora da caixa. E, não é tão revolucionário agora, mas foi um pouco diferente na época. No entanto eu tive um monte de oposições de um dos executivos das contas mais altas da agência. Ele meio que estava trabalhando contra mim na reunião onde apresentava o trabalho para Steve. Ele fez um comentário que, se essa nova empresa fosse adiante e persistisse em todas essas cores iria à falência antes de iniciar o negócio. Esse foi o tipo de atitude que eu estava enfrentando na agência. Mas Steve gostou logo de cara. Ele é um cara muito perspicaz, como nós percebemos mais tarde, e ele gostou da singularidade dele também. Além disso, devo acrescentar que a ideia de um computador entrar nas casas das pessoas era um pouco ameaçadora, porque até então os computadores eram para grandes empresas, eram altamente técnicos e sensíveis, e todas essas coisas. A maioria dos computadores pessoais que estavam saindo na época tinham nomes muito técnicos. TRS-80 e coisas assim, então é por isso que o nome Apple era tão valioso, porque era básico e não técnico, e para seguir com esse conceito, as cores eram muito importantes.
O computador pessoal Apple II

CB: O que é que a mordida na maçã representa? É uma referência ao termo byte de computação? É uma referência ao evento bíblico quando Eva morde o fruto proibido? É a fruta em si referenciando a descoberta da gravidade por Newton quando uma maçã caiu em sua cabeça enquanto ele estava sentado debaixo da árvore?
RJ: Isso é realmente interessante, mas eu receio que não tem nada a ver com isso. Do ponto de vista de um designer, um dos grandes fenômenos acontece quando você está tendo a experiência de concepção de um logotipo, por qualquer motivo você queira projetá-lo, e anos mais tarde você supostamente descobre por que fez certas coisas. E, isso é tudo baboseira. É uma lenda urbana maravilhosa. Alguém começa e então as pessoas seguem, "oh yeah, deve ser isso!".

CB: É possível que vocês foram influenciados inconscientemente por essas histórias?
RJ: Bem, eu sou provavelmente a pessoa menos religiosa, assim, Adão e Eva não tem nada a ver com isso. A mordida do conhecimento parece fabulosa, mas não é isso. E, há um monte de outras histórias atrativas sobre isso. Turing o famoso suposto pai da ciência da computação que se suicidou no início dos anos 50 era britânico e foi acusado de ser homossexual, o que ele era. Ele estava enfrentando uma sentença de prisão e cometeu suicídio para evitar tudo isso. Então, ouvi uma das lendas, dizendo que o logotipo colorido foi uma homenagem a ele. As pessoas pensavam que eu fiz as listras coloridas por causa da bandeira gay. E, isso foi algo acreditado realmente por um longo tempo. A outra parte legal dessa historia foi que, aparentemente, ele se matou com uma maçã injetada com cianeto. E depois, eu descobri que a história infantil favorita de Alan Turing foi Branca de Neve onde ela adormece para sempre por comer uma maçã envenenada para ser acordada pelo belo príncipe. 
Enfim, quando eu explicar a verdadeira razão pela qual eu fiz a mordida será como rebaixa-la. Mas eu vou te dizer. Eu desenhei-a com uma mordida em escala, de modo que as pessoas percebessem que era uma maçã e não uma cereja. Também era uma espécie de ícone de tirar uma mordida de uma maçã. Algo que todos podem experimentar. Ele vai em todas as culturas. Se alguém já viu uma maçã, provavelmente já deu uma mordida e isso é o que você pode ver. Foi depois que eu desenhei, que o meu diretor de criação me disse: "Bem, você sabe, há um termo de computação chamado byte". E eu disse: "Você está brincando!" Então era perfeito, mas era coincidência que byte também era um termo de computação. Na época, eu tinha que ter dito tudo sobre os termos básicos de informática.

CB: Você obviamente não projetou o logotipo no computador?
RJ: Na verdade, e é uma revelação para um monte de jovens designers. Eu recebo e-mails o tempo todo me perguntando sobre o logotipo de todo lugar do mundo e é realmente muito gratificante, porque não é todo designer que tem a chance de conversar com todo mundo por causa de algum trabalho que tenha feito. E, as pessoas me perguntam: você o projetou em um computador? E, claro, os computadores daquele tempo não poderiam fazer isso por mim. Foi somente anos mais tarde, até o Mac ser projetado, desenvolvido e refinado que eu comecei a trabalhar com um computador. Na época, era tudo lápis e papel, cola e recortes, canetas e todas essas coisas.

CB: Como é a sensação de ver o seu logotipo em todos os lugares?
RJ: É uma experiência única que ainda faz meu dia, sempre que eu o vejo de forma inesperada. Você está assistindo a um filme ou programa de tv e, geralmente, quando eles têm um personagem legal ele vai ter um laptop com um logo da Apple sobre ele, como Meryl Streep em O Diabo Veste Prada. Eu fiz um monte de viajens e no início, quando o logo ainda tinha listras multicoloridas, eu estava na China e lá estava ele em um outdoor em algum lugar, com uma escrita em chines que eu não sabia ler, mas algo que saiu da minha cabeça estava lá para todos verem e interpretarem. É como uma coisa pessoal. É como ter um filho. Você fica muito orgulhoso dele.
Mac Book Pro no seriado Dr. House

CB: Você gosta das mudanças que a Apple fez para o seu projeto original ao longo dos anos?
RJ: Eu gosto deles. As listras serviram o seu propósito e elas estão definitivamente datadas. Eu acho que é muito importante que um produto como a Apple mantenha-se atualizada e Steve Jobs é, obviamente, muito consciente de que ele tem designers fabulosos trabalhando para ele em design industrial e design gráfico. Eu me sinto ótimo por ainda ser a mesma silhueta básica que passou por muitas e muitas mudanças. A forma de maçã mudou um pouco do meu projeto original no início dos anos 80. A empresa de design Landor & Associates fez as alterações. Eles deixaram as cores mais brilhantes, as formas muito mais simétricas, mais geométricas. Quando eu projetei isso eu praticamente fiz à mão livre. Muitas vezes penso comigo mesmo por que não pude fazer isso. É porque ele não estava onde eu estava vindo na época. Eu acho que eles fizeram um ótimo trabalho e vai ser fascinante ver a próxima alteração e como el vai funcionar.


CB: Que outros projetos te deixam orgulhoso?
RJ: As pessoas presumem que eu continuei com design puro e fiz muitos logos mais. Eu fiz alguns logos, mas a minha carreira é mais sobre a publicidade, o que significa publicidade impressa e TV. Tanto de imagem quanto de logotipo, realmente não há nada que se pareça ou chegue perto do logo da Apple. É como um problema quando você faz algo tão conhecido, e tão cedo na sua carreira. É somente descida a partir daí. Eu estava orgulhoso de todas as coisas que eu estava envolvido. Como fazer um comercial de televisão, que realmente demoraram um pouco para entender. Essas são as coisas que mantém o meu interesse. Na publicidade você trabalha com palavras e imagens juntos, você trabalha com mais pessoas. Há mais chance de vir para cima com imagens que tem duplo sentido, tem a ver com linguagem coloquial e tudo mais. É um longo caminho pra dizer, não há nada mais que eu seja tão orgulhoso e as coisas eram muito diferentes das de então.
Rob Janoff em 1977

CB: Você usa Macs hoje? Você ainda trabalha?
RJ: Eu realmente gostaria de me aposentar, mas nesta economia eu realmente não posso. Eu trabalho com um Mac, é tudo o que eu já trabalhei. Eu não saberia o que fazer com um clique esquerdo e um clique direito. Sendo leal a marca até o fim, mesmo que os produtos custem um pouco mais. Eu não pensaria em usar qualquer outra coisa. Além disso, para gráficos e design a Apple é muito superior a Microsoft.

CB: Você pode me dizer seu logotipo favorito que não foi feito por você?
RJ: Tem muitos. Eu realmente gosto de outros designs clássicos. A Volkswagen porque está muito claro o que é e tem sido assim por tanto tempo. Estou estava tentando pensar em outros logotipos que incorporaram a multicor e eu pensei no logo da NBC. Eu gosto de logotipos com uma relação entre espaços positivos e negativos, onde algo é revelado.
O logotipo da FedEx forma uma ceta no espaço entre a letra E a e letra X.

CB: Como o logotipo da FedEx?
RJ: Sim, isso é outro que eu gosto muito. É muito simples e se você estudá-lo, você percebe o elemento dinâmico dele com a seta. Esses são os tipos de logos que eu responderia.

CB: Você pode me dizer quais as coisas mais importantes para se atentar ao projetar um logotipo?
RJ: A principal coisa é fazer o simples, porque os designers, especialmente jovens designers, tendem a sobrecarregar, ou os clientes querem muitas coisas nele. Acho que as pessoas que tentam trabalhar um logotipo muito difícil, tendo muitos significados, acabam com algo que é muito complexo. Logos geralmente tem que ser interpretados desde muito, muito pequenos até muito, muito grandes, o que nem sempre é fácil. Então, eu acho que a simplicidade e a legibilidade são a chave. Você está projetando para um público que realmente não se importa tanto quanto você, e a menos que ele consiga seu interesse de imediato, eles vão passar por cima dele. Então, ter um logo muito legível também é importante. Capturar a imaginação do público por ter algo revelado a eles quando eles olham para o logotipo também é importante. Além disso, é uma oportunidade de dar tudo o que você está tentando retratar com uma personalidade - isso é algo que eu tento fazer.

CB: Uma porcentagem enorme de designers nunca receberam uma educação formal. Ainda assim, alguns deles estão fazendo um grande trabalho. Você acha que a educação formal é necessária?
RJ: Bem, eu não acho que é necessário, porque eu acho que eu aprendi a maior parte do conhecimento sobre gráficos depois que eu comecei a trabalhar, não na escola. Eu acho que alguém que é um designer de sucesso tem uma capacidade nata de ver de uma certa maneira. Eu sei que eu faço. Tenho tendência a ser uma pessoa muito visual em oposição a verbal e eu acho que é uma qualidade muito importante. Infelizmente, agora todo mundo tem todas as ferramentas à sua disposição, independentemente se eles têm algum talento para o design. Todo mundo acha que é um designer, abrindo um filtro no Photoshop. Então, eu acho que não, você não precisa de toda a educação formal e que muitas coisas podem ser aprendidas, obviamente, quando se trabalha para isso.

CB: Última pergunta, qual é a sua sugestão para os nossos leitores mais jovens, o que eles devem focar para se tornarem grandes designers?
Rob Janoff in 2009
RJ: Isso é algo que eu digo aos meus filhos: eu poderia fazer isso mesmo que eu não estivesse sendo pago para isso, porque eu gosto muito, porque agora mais do que nunca, há muitas pessoas tentando se tornar designers, trabalhando para agências só porque as ferramentas estão disponíveis. Assim, é cada vez mais difícil conseguir trabalho. E, a forma como algumas pessoas têm para conseguir trabalho ou ser aprendiz é trabalhando por nada para alguém, até que consiga o emprego, porque existe muita concorrência.

CB: Muito obrigado pela entrevista!

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