terça-feira, 23 de setembro de 2014

Argumentação lógica e falácias

O filósofo, matemático e cientista americano Charles Sanders Peirce fala que as lógicas são “ferramentas para o raciocínio correto”.

Porém, quando uma discussão ou debate se concentra em encontrar um vencedor ao invés de elucidar um tema proposto, acabamos nos deparando com as falácias, que são argumentos logicamente inconsistentes ou sem fundamento, que podem parecer convincentes mas desviam ou ludibriam o assunto proposto.


Dessa forma, nem sempre o melhor argumento vence, mas aquele que melhor soube debater.



Veja abaixo os tipos de falácias apresentados no site https://yourlogicalfallacyis.com
. Saiba identifica-los e procure não comete-los para ser um bom argumentador!


Espantalho
Desviar um argumento para torná-lo mais fácil de atacar.

Ao exagerar, desvirtuar ou simplesmente inventar um argumento utilizando as colocações de sua contra-parte, fica bem mais fácil apresentar uma posição como razoável ou válida.

Exemplo: Depois de Felipe dizer que o governo deveria investir mais em saúde e educação, Jader respondeu dizendo estar surpreso que Felipe odeie tanto o Brasil, a ponto de querer deixar o nosso país completamente indefeso, sem verba militar.



Causa Falsa
Supor que uma relação real ou percebida entre duas coisas significa que uma é a causa da outra.

Este erro consiste em ignorar a possibilidade de que possa haver uma causa em comum para ambas, ou que as duas coisas em questão não tenham absolutamente nenhuma relação de causa, e a sua aparente conexão é só uma coincidência.

Exemplo: Apontando para um gráfico, Rogério mostra como as temperaturas têm aumentado nos últimos séculos, ao mesmo tempo em que o número de piratas têm caído; sendo assim, obviamente, os piratas é que ajudavam a resfriar as águas, e o aquecimento global é uma farsa.



Apelo à emoção
Manipular uma resposta emocional no lugar de um argumento válido ou convincente.

É importante dizer que às vezes um argumento logicamente coerente pode inspirar emoção, ou ter um aspecto emocional, mas a falácia acontece quando a emoção é usada no lugar de um argumento lógico.

Exemplo: Lucas não queria terminar a sua comida, mas seu pai o lembrou de todas as crianças famintas e pobres que não tinham a sorte de ter o que comer.



A falácia da falácia
Supor que uma afirmação está necessariamente errada só porque ela não foi bem construída ou porque uma falácia foi cometida.

Só porque alguém cometeu um erro na sua defesa do argumento, não necessariamente significa que o argumento em si esteja errado.

Exemplo: Amanda cometeu uma falácia ao defender que devemos comer alimentos saudáveis porque sua nutricionista disse que eles são populares, Alice então resolveu ignorar a posição de Amanda por completo e defender que, por tanto, devemos comer hambúrguer todos os dias.



Ladeira Escorregadia
Fazer parecer que o fato de permitirmos que aconteça A fará com que aconteça Z, e por isso não podemos permitir A.

O problema com essa linha de raciocínio é que ela evita que se lide com a questão real, jogando a atenção em hipóteses extremas. Como não se apresenta nenhuma prova de que tais hipóteses extremas realmente ocorrerão, esta falácia toma a forma de um apelo à emoção do medo.

Exemplo: Armando afirma que, se permitirmos casamentos entre pessoas do mesmo sexo, logo veremos pessoas se casando com seus pais.



Ad hominem
Atacar o caráter ou traços pessoais do seu oponente em vez de refutar o argumento dele.

Ataques ad hominem podem assumir a forma de golpes pessoais e diretos contra alguém, ou mais sutilmente jogar dúvida no seu caráter ou atributos pessoais. O resultado desejado de um ataque ad hominem é prejudicar o oponente sem precisar de fato se engajar no argumento dele ou apresentar um próprio.

Exemplo: Depois de Salma apresentar de maneira eloquente e convincente uma possível reforma do sistema de cobrança do condomínio, Samuel pergunta aos presentes se eles deveriam mesmo acreditar em qualquer coisa dita por uma mulher que já foi presa.



Tu quoque

Evitar ter que se engajar nos argumentos virando as próprias críticas contra o acusador responder críticas com outra crítica.

Literalmente significa “você também”, a implicação é que, independente da veracidade da acusação, essa falácia evita ter que reconhecer e responder a uma acusação contida em um argumento ao devolve-la ao acusador.

Exemplo: O político Aníbal foi acusado pelo seu oponente de ter desviado dinheiro público na construção de um hospital. Aníbal não responde a acusação diretamente e devolve insinuando que seu oponente também já aprovou licitações irregulares em seu mandato.



Incredulidade pessoal

Considerar que, por algo ser difícil de entender, ela não seja verdade.

Assuntos complexos como evolução biológica através de seleção natural exigem algum entendimento sobre como elas funcionam antes que alguém possa debatê-los adequadamente; esta falácia é geralmente usada no lugar desse entendimento.

Exemplo: Henrique desenhou um peixe e um humano em um papel e, com desdém efusivo, perguntou a Ricardo se ele realmente pensava que nós somos babacas o bastante para acreditar que um peixe acabou evoluindo até a forma humana através de, um monte de coisas aleatórias acontecendo com o passar dos tempos.



Alegação especial

Alterar as regras ou abrir uma exceção quando uma afirmação é exposta como falsa.

É geralmente bem fácil encontrar um motivo para acreditar em algo que nos favorece, e é necessária uma boa dose de integridade e honestidade genuína consigo mesmo para examinar nossas próprias crenças e motivações sem cair na armadilha da auto-justificação.

Exemplo: Eduardo afirma ser vidente, mas quando as suas “habilidades” foram testadas em condições científicas apropriadas, elas magicamente desapareceram. Ele explicou, então, que elas só funcionam para quem tem fé nelas.



Pergunta carregada
fazer uma pergunta que tem uma afirmação embutida, de modo que ela não pode ser respondida sem uma certa admissão de culpa.

Falácias desse tipo são particularmente eficientes em descarrilar discussões racionais, graças à sua natureza inflamatória – o receptor da pergunta carregada é compelido a se justificar e pode parecer abalado ou na defensiva.

Exemplo: Graça e Helena estavam interessadas no mesmo homem. Um dia, enquanto ele estava sentado próximo suficiente a elas para ouvir, Graça pergunta em tom de acusação: “Você melhorou com aquele tratamento para seus fungos, Helena?”



Ônus da prova
Esperar que outra pessoa prove que você está errado, em vez de você mesmo provar que está certo.

O ônus (obrigação) da prova está sempre com quem faz uma afirmação, nunca com quem refuta a afirmação. A impossibilidade, ou falta de intenção, de provar errada uma afirmação não a torna válida, nem dá a ela nenhuma credibilidade.

Exemplo: Beltrano declara que uma chaleira está, nesse exato momento, orbitando o Sol entre a Terra e Marte e que, como ninguém pode provar que ele está errado, a sua afirmação é verdadeira.



Ambiguidade
Utilizar duplo sentido ou linguagem ambígua para apresentar uma verdade de modo enganoso.

Políticos frequentemente são culpados de usar ambiguidade em seus discursos, para depois, se forem questionados, poderem dizer que não estavam tecnicamente mentindo. Isso é qualificado como uma falácia, pois é intrinsecamente enganoso.

Exemplo: Em um julgamento, o acusado de ter estacionado em lugar proibido responde a acusação dizendo que na placa estava dizendo: "Proibido estacionar na faixa amarela", e as rodas do meu veículo não estavam sobre a faixa amarela.



Falácia do apostador
Presumir que “sequências” acontecem em fenômenos estatisticamente independentes, como rolagem de dados ou números que caem em uma roleta.

Apesar da probabilidade geral de uma grande sequência do resultado desejado ser realmente baixa, cada lance do dado é, em si mesmo, inteiramente independente do anterior. Apesar de haver uma chance baixíssima de um cara-ou-coroa dar cara 20 vezes seguidas, a chance de dar cara em cada uma das vezes é e sempre será de 50%, independente de todos os lances anteriores ou futuros.

Exemplo: Uma roleta deu número vermelho seis vezes em sequência, então Gregório teve quase certeza que o próximo número seria preto. Sofrendo uma forma econômica de seleção natural, ele logo foi separado de suas economias.



Manada
Apelar para o fato de que muitas pessoas fazem ou concordam com aquilo, como uma tentativa de validação de um argumento.

A falha nesse argumento é que a popularidade de uma ideia não tem absolutamente nenhuma relação com a sua validade. Se houvesse, a Terra teria se feito plana por muitos séculos, pelo simples fato de que todos acreditavam que ela era assim.

Exemplo: Luciano, apontou um dedo para Jão e perguntou como é que tantas pessoas acreditam em duendes se eles são só uma superstição antiga e boba. Jão respondeu que, se tantas pessoas acreditam, é porque duendes de fato existem.



Apelo à autoridade
Acreditar que, por uma autoridade no assunto acreditar em algo, ela deve ser verdade. 

É importante entender que esta falácia não deve ser usada para desvalidar argumentos de peritos ou consensos científicos.  O apelo a autoridade acontece quando um argumento não pode ser afirmado como verdadeiro, e se utiliza a posição de sua fonte como motivo de sua veracidade.

Exemplo: Um professor se vê questionado por um aluno. E sem uma resposta convincente, o professor argumenta que tem mestrado e pós-doutorado e isso é mais do que suficiente para o aluno confiar nele.



Composição/Divisão
Presumir que o que é verdade para uma parte, deve ser aplicada a todas ou outras partes daquilo.

Muitas vezes, quando algo é verdadeiro em partes, isso também se aplica ao todo, mas é crucial saber se existe evidência de que este é mesmo o caso.

Já que observamos consistência nas coisas, o nosso pensamento pode se tornar enviesado de modo que presumimos consistência e padrões onde eles não existem.

Exemplo: Daniel era uma criança precoce com uma predileção por pensamento lógico. Ele sabia que átomos são invisíveis, então logo concluiu que ele, por ser feito de átomos, também era invisível. Nunca foi vitorioso em uma partida de esconde-esconde.



Não é um escocês verdadeiro…
Fazer o que pode ser chamado de apelo à pureza como forma de rejeitar críticas relevantes ou falhas no seu argumento.

Esta falácia é frequentemente utilizada como medida de desespero quando um ponto do argumento foi quebrado. Percebendo que uma crítica é válida, mas não querendo admitir isso, o argumentador apresenta um novo critério para dissociar outros ou até mesmo o próprio argumento.


Exemplo: Angus diz que escoceses não colocam açúcar no mingau, ao que Lachlan retruca que é um escocês e põe açúcar no mingau. Furioso, Angus diz que um “escocês de verdade” não põe açúcar no mingau.



Genética
Julgar algo como bom ou ruim se baseando em onde ela vem, ou de quem ele é.

Essa falácia tem a mesma função da Ad Hominem, mas se aplica as percepções sobre a fonte ou o contexto de algo.


Exemplo: Acusado no Jornal Nacional de corrupção, o senador responde que devemos ter muito cuidado com o que ouvimos na mídia, já que todos sabemos como ela pode não ser confiável.



Preto-ou-branco

Quando apenas duas alternativas são apresentadas, quando de fato existem outras.

Também conhecida como falso dilema, esta tática aparenta estar formando um argumento lógico, mas sob análise mais cuidadosa fica evidente que há mais possibilidades além das duas apresentadas.

Exemplo: Ao discursar sobre o seu plano de mudanças nos direitos do cidadão, o Líder Supremo falou ao povo que ou eles estão do seu lado, ou do lado do inimigo.



Suplicar a pergunta
Um argumento circular onde a conclusão já está incluída na premissa.

Este argumento logicamente incoerente geralmente surge em situações onde as pessoas têm crenças bastante enraizadas, e por isso consideradas verdades absolutas em suas mentes. Racionalizações circulares são ruins principalmente porque não são muito boas.

Exemplo: A Palavra do Grande Zorbo é perfeita e infalível. Nós sabemos disso porque diz aqui no Grande e Infalível Livro das Melhores e Mais Infalíveis Coisas do Zorbo Que São Definitivamente Verdadeiras e Não Devem Nunca Serem Questionadas.



Apelo à natureza
Argumentar que, porque algo é “natural”, ele é válido, justificado, inevitável ou ideal.

Muitas coisas naturais são consideradas boas, e isso pode balizar nosso pensamento; mas a naturalidade por si só, não faz das coisas boas ou ruins. O assassinato por exemplo, pode ser considerado algo natural, mas isso não faz dele justificável.

Exemplo: O curandeiro chegou na cidade em sua carroça cheia de remédios da tribo, incluindo garrafas de Água Pura Muito Especial, dizendo que todos eram naturais e que as pessoas deveriam desconfiar de remédios “artificiais”, como antibióticos.



Anedótica
Usar uma experiência pessoal ou um exemplo isolado em vez de um argumento sólido, especialmente para descartar estatísticas.

É mais fácil para as pessoas simplesmente acreditarem no testemunho de alguém do que tentar entender dados complexos e variações dentro de um continuum. Medidas científicas e estatísticas são quase sempre mais precisas do que percepções e experiências individuais.


Exemplo: José disse que o seu avô fumava 30 cigarros por dia e viveu até os 97 anos — então não acredite nessas meta análises que você lê sobre estudos metodicamente corretos provando relações causais entre cigarros e expectativa de vida.



O atirador do Texas
Selecionar apenas os dados que corroboram com o seu argumento, ou encontrar um padrão que encaixe como presunção.

Esta falácia da “falsa causa” ganha seu nome a exemplo de um atirador que dispara aleatoriamente contra a parede, e, na sequência, pinta um alvo ao redor da área com o maior número de buracos, fazendo parecer que ele tem ótima pontaria. 

Agrupamentos como esse aparecem naturalmente por acaso, mas não necessariamente indicam que há uma relação causal entre eles.

Exemplo: Os fabricantes de uma bebida açucarada apontam pesquisas que mostram que, dos cinco países onde a sua bebida é mais vendida, três estão na lista dos dez países mais saudáveis do mundo, logo, sua bebida açucarada é saudável.



Meio-termo
Declarar que um acordo entre as partes, ou um ponto mediano entre dois extremos deve ser a verdade.

Em muitos casos, a verdade pode realmente estar entre dois pontos extremos, mas isso pode enviesar nosso pensamento: as vezes uma coisa simplesmente não é verdadeira, e um meio termo dela também não é verdadeiro. O meio termo entre uma verdade e uma mentira continua sendo uma mentira.

Exemplo: Clara diz que a vacinação causa autismo em crianças, mas o seu amigo que entende de ciências disse que essa afirmação já foi derrubada como falsa, com provas. Então uma amiga dos dois ofereceu um meio-termo: talvez as vacinas causem um pouco de autismo.



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