quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Entenda as Funções Básicas de uma Câmera

Você está começando agora a usar uma câmera fotográfica ou de vídeo e não sabe bem como configurar as funções para ter uma boa captura de imagem? Suas fotos não ficam boas, seus vídeos ficam granulados e com manchas de cores?

Pois é, cada câmera possui suas funções específicas, mas existem configurações de lente que são padrão para qualquer máquina que possibilite funções manuais de configuração. Vamos entender as principais delas:


Quadros por segundo (QPS) ou Taxa de Quadros

A velocidade de captura de quadros é o número de quadros gravados por segundo em um vídeo. Geralmente as câmeras disponibilizam as velocidades 24 QPS (24p), 30 QPS (30p) ou 60 QPS (60p). A 24 QPS, as imagens são gravadas com uma textura mais cinematográ
fica. A 30 QPS, a estética é mais parecida à vídeos de programas de televisão, já a taxa de 60 QPS tende a dar ainda mais definição para os movimentos, é a versão mais utilizada hoje em dia para gravação de vídeos em resolução de 720 ou 1080 (que são os tamanhos da imagem). Mas existem profissionais que afirmam ser o 25p a 720p muito melhor que o padrão 60p a 1080i, em temos de definição de imagens.


Resolução

A resolução Full HD é 1920x1080. Dependendo do modelo da sua câmera, você pode optar por gravar em Full HD a 60 QPS (60p), 30 QPS (30p) ou 24 QPS (24p). A resolução em alta definição (HD) é de 1280x720 e você pode optar por gravar HD a 30 QPS (30p) ou 24 QPS (24p). Como HD é uma resolução menor, diversos modelos também oferecem a gravação em HD 1280x720 a 60 QPS (60p), e quando as cenas forem reconvertidas para 30 qps na pós-produção ou software de edição, podem apresentar um efeito de câmera lenta bem “bacana”.

Outros três fatores também afetam a exposição:


Velocidade do obturador

A “velocidade do obturador” é o tempo pelo qual o obturador fica aberto durante a exposição. É normalmente expresso em segundos ou frações de segundo: 1s, 1/2s, 1/4s, 1/250s, 1/500s... Velocidades altas de obturador reduzem o tempo de permanência da luz que chega ao sensor de imagem, enquanto velocidades mais baixas têm o efeito oposto. Para encontrar a velocidade ideal, recomenda-se pegar o valor que você esta usando de QPS e duplica-lo para atingir sua velocidade do obturador funcional, de modo que ao gravar a 24 QPS seja usado pelo menos 1/50 de velocidade do obturador e, ao gravar a 30 QPS, seja usado pelo menos 1/60. Se preferir você pode usar uma velocidade do obturador menor, que exibirá mais desfoque nos objetos em movimento, e do mesmo modo poderá usar uma velocidade maior, que irá congelar a ação na tela.


Abertura (f/stop)

A abertura controla a intensidade de luz que chega ao sensor de imagem e é geralmente expressa como um número f: f/1.4, f/2, f/3.5, f/5.6, f/8, f/11, f/16, f/22, f/32. Mudar o número f altera o tamanho do orifício através do qual a luz entra na câmera (a abertura) e, portanto, muda a intensidade de luz que passa através da lente. Quanto maior o número f, menor a abertura, permitindo que menos luz entre na câmera. Use uma abertura maior quando quiser separar o assunto do plano de fundo, ou exibir apenas uma pequena parte da ação em foco, e uma abertura menor quando quiser focar tanto o plano de fundo quanto o primeiro plano.


Sensibilidade ISO

A sensibilidade da câmera à luz pode ser ajustada de acordo com as condições de iluminação. Em geral, quanto maior a sensibilidade ISO, menos luz é necessária para uma exposição, permitindo que sejam usadas velocidades de obturador maiores ou aberturas menores. Se preferir você pode aumentar o ISO, mas lembre-se que, quanto maior o ISO, mais ruído poderá ser visível na cena gravada.



O mais importante a entender é que não existe uma formula correta de configuração, tudo vai depender do que você vai filmar (ou fotografar), como irá fazer isso, quais suas condições de luz, seu ambiente e por ai vai. Para conseguir um bom resultado, o ideal é que você vá testando as diferentes configurações até encontrar uma que fique perfeita para o que você busca. Por exemplo, se você está gravando um vídeo para o youtube, dentro da  sua casa a noite, provavelmente terá pouca iluminação, e por isso será necessário ajustar sua câmera para captar mais luz.

terça-feira, 31 de março de 2015

O perigo de uma única história

Você é daqueles como eu, que também não se contenta com apenas um lado da moeda? Pois é meu amigo, para conhecer, e entender um cenário por completo, é preciso ter todos os pontos de vista, e nunca se contentar com a aparente verdade sobre tudo.


Abaixo, veja a palestra de Chimamanda Adichie, uma escritora nigeriana que mostra os perigos de se ter apenas uma única história sobre as coisas. Ela mostra como coisas sutis podem influenciar como olhamos ou pensamos sobre o que ao menos conhecemos. Leve esta forma de pensar para todos os seus conceitos formados e veja sua mente explodir! (Abaixo do vídeo, a transcrição completa da palestra.)



Eu sou uma contadora de histórias e gostaria de contar a vocês algumas histórias pessoais sobre o que eu gosto de chamar "o perigo de uma história única." Eu cresci num campus universitário no leste da Nigéria. Minha mãe diz que eu comecei a ler com 2 anos, mas eu acho que 4 é provavelmente mais próximo da verdade. Então, eu fui uma leitora precoce. E o que eu lia eram livros infantis britânicos e americanos.

Eu fui também uma escritora precoce. E quando comecei a escrever, por volta dos 7 anos, histórias com ilustrações em giz de cera, que minha pobre mãe era obrigada a ler, eu escrevia exatamente os tipos de histórias que eu lia. Todos os meus personagens eram brancos de olhos azuis. Eles brincavam na neve. Comiam maçãs. E eles falavam muito sobre o tempo, em como era maravilhoso o sol ter aparecido (Risos). Agora, apesar do fato que eu morava na Nigéria. Eu nunca havia estado fora da Nigéria. Nós não tínhamos neve, nós comíamos mangas. E nós nunca falávamos sobre o tempo porque não era necessário.

Meus personagens também bebiam muita cerveja de gengibre porque as personagens dos livros britânicos que eu lia bebiam cerveja de gengibre. Não importava que eu não tinha a mínima ideia do que era cerveja de gengibre. E por muitos anos depois, eu desejei desesperadamente experimentar cerveja de gengibre. Mas isso é uma outra história.

A meu ver, o que isso demonstra é como nós somos impressionáveis e vulneráveis face a uma história, principalmente quando somos crianças. Porque tudo que eu havia lido eram livros nos quais as personagens eram estrangeiras, eu convenci-me de que os livros, por sua própria natureza, tinham que ter estrangeiros e tinham que ser sobre coisas com as quais eu não podia me identificar. Bem, as coisas mudaram quando eu descobri os livros africanos. Não havia muitos disponíveis e eles não eram tão fáceis de encontrar quanto os livros estrangeiros, mas devido a escritores como Chinua Achebe e Camara Laye eu passei por uma mudança mental em minha percepção da literatura. Eu percebi que pessoas como eu, meninas com a pele da cor de chocolate, cujos cabelos crespos não poderiam formar rabos-de-cavalo, também podiam existir na literatura.

Eu comecei a escrever sobre coisas que eu reconhecia.

Bem, eu amava aqueles livros americanos e britânicos que eu lia. Eles mexiam com a minha imaginação, me abriam novos mundos. Mas a consequência inesperada foi que eu não sabia que pessoas como eu podiam existir na literatura. Então o que a descoberta dos escritores africanos fez por mim foi: salvou-me de ter uma única história sobre o que os livros são.

Eu venho de uma família nigeriana convencional, de classe média. Meu pai era professor. Minha mãe, administradora. Então nós tínhamos, como era normal, empregada doméstica, que frequentemente vinha das aldeias rurais próximas. Então, quando eu fiz 8 anos, arranjamos um novo menino para a casa. Seu nome era Fide. A única coisa que minha mãe nos disse sobre ele foi que sua família era muito pobre. Minha mãe enviava inhames, arroz e nossas roupas usadas para sua família. E quando eu não comia tudo no jantar, minha mãe dizia: "Termine sua comida! Você não sabe que pessoas como a família de Fide não tem nada?". Então eu sentia uma enorme pena da família de Fide.

Então, um sábado, nós fomos visitar a sua aldeia e sua mãe nos mostrou um cesto com um padrão lindo, feito de ráfia seca por seu irmão. Eu fiquei atônita! Nunca havia pensado que alguém em sua família pudesse realmente criar alguma coisa. Tudo que eu tinha ouvido sobre eles era como eram pobres, assim havia se tornado impossível pra mim vê-los como alguma coisa além de pobres. Sua pobreza era minha história única sobre eles.

Anos mais tarde, pensei nisso quando deixei a Nigéria para cursar universidade nos Estados Unidos. Eu tinha 19 anos. Minha colega de quarto americana ficou chocada comigo. Ela perguntou onde eu tinha aprendido a falar inglês tão bem e ficou confusa quando eu disse que, por acaso, a Nigéria tinha o inglês como sua língua oficial. Ela perguntou se podia ouvir o que ela chamou de minha "música tribal" e, consequentemente, ficou muito desapontada quando eu toquei minha fita da Mariah Carey (Risos). Ela presumiu que eu não sabia como usar um fogão.

O que me impressionou foi que: ela sentiu pena de mim antes mesmo de ter me visto. Sua posição padrão para comigo, como uma africana, era um tipo de arrogância bem intencionada, piedade. Minha colega de quarto tinha uma única história sobre a África. Uma única história de catástrofe. Nessa única história não havia possibilidade de os africanos serem iguais a ela, de jeito nenhum. Nenhuma possibilidade de sentimentos mais complexos do que piedade. Nenhuma possibilidade de uma conexão como humanos iguais.

Eu devo dizer que antes de ir para os Estados Unidos, eu não me identificava, conscientemente, como uma africana. Mas nos EUA, sempre que o tema África surgia, as pessoas recorriam a mim. Não importava que eu não sabia nada sobre lugares como a Namíbia. Mas eu acabei por abraçar essa nova identidade. E, de muitas maneiras, agora eu penso em mim mesma como uma africana. Entretanto, ainda fico um pouco irritada quando referem-se à África como um país. O exemplo mais recente foi meu maravilhoso voo dos Lagos 2 dias atrás, não fosse um anúncio de um voo da Virgin sobre o trabalho de caridade na "Índia, África e outros países."

Então, após ter passado vários anos nos EUA como uma africana, eu comecei a entender a reação de minha colega para comigo. Se eu não tivesse crescido na Nigéria e se tudo que eu conhecesse sobre a África viesse das imagens populares, eu também pensaria que a África era um lugar de lindas paisagens, lindos animais e pessoas incompreensíveis, lutando guerras sem sentido, morrendo de pobreza e AIDS, incapazes de falar por eles mesmos, e esperando serem salvos por um estrangeiro branco e gentil. Eu veria os africanos do mesmo jeito que eu, quando criança, havia visto a família de Fide.

Eu acho que essa única história da África vem da literatura ocidental. Então, aqui temos uma citação de um mercador londrino chamado John Locke, que navegou até o oeste da África em 1561 e manteve um fascinante relato de sua viagem. Após referir-se aos negros africanos como "bestas que não tem casas", ele escreve: "Eles também são pessoas sem cabeças, que têm sua boca e olhos em seus seios."

Eu rio toda vez que leio isso, e alguém deve admirar a imaginação de John Locke. Mas o que é importante sobre sua escrita é que ela representa o início de uma tradição de contar histórias africanas no Ocidente. Uma tradição da África subsaariana como um lugar negativo, de diferenças, de escuridão, de pessoas que, nas palavras do maravilhoso poeta, Rudyard Kipling, são "metade demônio, metade criança".

E então eu comecei a perceber que minha colega de quarto americana deve ter, por toda sua vida, visto e ouvido diferentes versões de uma única história. Como um professor, que uma vez me disse que meu romance não era "autenticamente africano". Bem, eu estava completamente disposta a afirmar que havia uma série de coisas erradas com o romance, que ele havia falhado em vários lugares. Mas eu nunca teria imaginado que ele havia falhado em alcançar alguma coisa chamada autenticidade africana. Na verdade, eu não sabia o que era "autenticidade africana". O professor me disse que minhas personagens pareciam-se muito com ele, um homem educado de classe média. Minhas personagens dirigiam carros, elas não estavam famintas. Por isso elas não eram autenticamente africanos.

Mas eu devo rapidamente acrescentar que eu também sou culpada na questão da única história. Alguns anos atrás, eu visitei o México saindo dos EUA. O clima político nos EUA àquela época era tenso. E havia debates sobre imigração. E, como frequentemente acontece na América, imigração tornou-se sinônimo de mexicanos. Havia histórias infindáveis de mexicanos como pessoas que estavam espoliando o sistema de saúde, passando às escondidas pela fronteira, sendo presos na fronteira, esse tipo de coisa.

Eu me lembro de andar no meu primeiro dia por Guadalajara, vendo as pessoas indo trabalhar, enrolando tortilhas no supermercado, fumando, rindo. Eu me lembro que meu primeiro sentimento foi surpesa. E então eu fiquei oprimida pela vergonha. Eu percebi que eu havia estado tão imersa na cobertura da mídia sobre os mexicanos que eles haviam se tornado uma coisa em minha mente: o imigrante abjeto. Eu tinha assimilado a única história sobre os mexicanos e eu não podia estar mais envergonhada de mim mesma.

Então, é assim que se cria uma única história: mostre um povo como uma coisa, como somente uma coisa, repetidamente, e será o que eles se tornarão.

É impossível falar sobre única história sem falar sobre poder. Há uma palavra, uma palavra da tribo Igbo, que eu lembro sempre que penso sobre as estruturas de poder do mundo, e a palavra é "nkali". É um substantivo que livremente se traduz: "ser maior do que o outro." Como nossos mundos econômico e político, histórias também são definidas pelo princípio do "nkali". Como são contadas, quem as conta, quando e quantas histórias são contadas, tudo realmente depende do poder.

Poder é a habilidade de não só contar a história de uma outra pessoa, mas de fazê-la a história definitiva daquela pessoa. O poeta palestino Mourid Barghouti escreve que se você quer destituir uma pessoa, o jeito mais simples é contar sua história, e começar com "em segundo lugar".

Comece uma história com as flechas dos nativos americanos, e não com a chegada dos britânicos, e você tem uma história totalmente diferente. Comece a história com o fracasso do estado africano e não com a criação colonial do estado africano e você tem uma história totalmente diferente.

Recentemente, eu palestrei em uma universidade onde um estudante disse-me que era uma vergonha que homens nigerianos fossem agressores físicos como a personagem do pai no meu romance. Eu disse a ele que eu havia terminado de ler um romance chamado Psicopata Americano e que era uma grande pena que jovens americanos fossem assassinos em série. É óbvio que eu disse isso num leve ataque de irritação.

Nunca havia me ocorrido pensar que só porque eu havia lido um romance no qual uma personagem era um assassino em série, que isso era, de alguma forma, representativo de todos os americanos. E agora, isso não é porque eu sou uma pessoa melhor do que aquele estudante, mas, devido ao poder cultural e econômico da América, eu tinha muitas histórias sobre a América. Eu havia lido Tyler, Updike, Steinbeck e Gaitskill. Eu não tinha uma única história sobre a América.

Quando eu soube, alguns anos atrás, que escritores deveriam ter tido infâncias realmente infelizes para ter sucesso, eu comecei a pensar sobre como eu poderia inventar coisas horríveis que meus pais teriam feito comigo (Risos). Mas a verdade é que eu tive uma infância muito feliz, cheia de risos e amor, em uma família muito unida.

Mas também tive avós que morreram em campos de refugiados. Meu primo Polle morreu porque não teve assistência médica adequada. Um dos meus amigos mais próximos, Okoloma, morreu em um acidente aéreo porque nossos caminhões de bombeiros não tinham água. Eu cresci sob governos militares repressivos que desvalorizavam a educação, então, por vezes, meus pais não recebiam seus salários. E então, ainda criança, eu vi a geleia desaparecer do café-da-manhã, depois a margarina desapareceu, depois o pão tornou-se muito caro, depois o leite ficou racionado. E, acima de tudo, um tipo de medo político normalizado invadiu nossas vidas.

Todas essas histórias fazem-me quem eu sou. Mas insistir somente nessas histórias negativas é superficializar minha experiência e negligenciar as muitas outras histórias que formaram-me. A única história cria estereótipos. E o problema com estereótipos não é que eles sejam mentira, mas que eles sejam incompletos. Eles fazem um história tornar-se a única história.

Claro, a África é um continente repleto de catástrofes. Há as enormes, como as terríveis violações no Congo. E há as depressivas, como o fato de 5.000 pessoas candidatarem-se a uma vaga de emprego na Nigéria. Mas há outras histórias que não são sobre catástrofes. E é muito importante, é igualmente importante, falar sobre elas.

Eu sempre achei que era impossível relacionar-me adequadamente com um lugar ou uma pessoa sem relacionar-me com todas as histórias daquele lugar ou pessoa. A consequência de uma única história é essa: ela rouba das pessoas sua dignidade. Faz o reconhecimento de nossa humanidade compartilhada difícil. Enfatiza como nós somos diferentes ao invés de como somos semelhantes.

E se antes de minha viagem ao México, eu tivesse acompanhado os debates sobre imigração de ambos os lados, dos Estados Unidos e do México? E se minha mãe nos tivesse contado que a família de Fide era pobre e trabalhadora? E se nós tivéssemos uma rede televisiva africana que transmitisse diversas histórias africanas para todo o mundo? O que o escritor nigeriano Chinua Achebe chama "um equilíbrio de histórias."

E se minha colega de quarto soubesse do meu editor nigeriano, Mukta Bakaray, um homem notável que deixou seu trabalho em um banco para seguir seu sonho e começar uma editora? Bem, a sabedoria popular era que nigerianos não gostam de literatura. Ele discordava. Ele sentiu que pessoas que podiam ler, leriam se a literatura se tornasse acessível e disponível para eles.

Logo após ele publicar meu primeiro romance, eu fui a uma estação de TV em Lagos para uma entrevista. E uma mulher que trabalhava lá como mensageira veio a mim e disse: "Eu realmente gostei do seu romance, mas não gostei do final. Agora você tem que escrever uma sequência, e isso é o que vai acontecer..." (Risos). E continuou a me dizer o que escrever na sequência. Agora eu não estava apenas encantada, eu estava comovida. Ali estava uma mulher, parte das massas comuns de nigerianos, que não se supunham ser leitores. Ela não tinha só lido o livro, mas ela havia se apossado dele e sentia-se no direito de me dizer o que escrever na sequência.

Agora, e se minha colega de quarto soubesse de minha amiga Fumi Onda, uma mulher destemida que apresenta um show de TV em Lagos, e que está determinada a contar as histórias que nós preferimos esquecer? E se minha colega de quarto soubesse sobre a cirurgia cardíaca que foi realizada no hospital de Lagos na semana passada? E se minha colega de quarto soubesse sobre a música nigeriana contemporânea? Pessoas talentosas cantando em inglês e Pidgin, e Igbo e Yoruba e Ijo, misturando influências de Jay-Z a Fela (Kuti), de Bob Marley a seus avós. E se minha colega de quarto soubesse sobre a advogada que recentemente foi ao tribunal na Nigéria para desafiar uma lei ridícula que exigia que as mulheres tivessem o consentimento de seus maridos antes de renovarem seus passaportes? E se minha colega de quarto soubesse sobre Nollywood, cheia de pessoas inovadoras fazendo filmes apesar de grandes questões técnicas? Filmes tão populares que são realmente os melhores exemplos de que nigerianos consomem o que produzem. E se minha colega de quarto soubesse da minha maravilhosamente ambiciosa trançadora de cabelos, que acabou de começar seu próprio negócio de vendas de extensões de cabelos? Ou sobre os milhões de outros nigerianos que começam negócios e às vezes fracassam, mas continuam a fomentar ambição?

Toda vez que estou em casa, sou confrontada com as fontes comuns de irritação da maioria dos nigerianos: nossa infraestrutura fracassada, nosso governo falho. Mas também pela incrível resistência do povo que prospera apesar do governo, ao invés de devido a ele. Eu ensino em workshops de escrita em Lagos todo verão. E é extraordinário pra mim ver quantas pessoas se inscrevem, quantas pessoas estão ansiosas por escrever, por contar histórias.

Meu editor nigeriano e eu começamos uma ONG chamada Farafina Trust. E nós temos grandes sonhos de construir bibliotecas e recuperar bibliotecas que já existem e fornecer livros para escolas estaduais que não tem nada em suas bibliotecas, e também organizar muitos e muitos workshops, de leitura e escrita para todas as pessoas que estão ansiosas para contar nossas muitas histórias.

Histórias importam. Muitas histórias importam.

Histórias tem sido usadas para expropriar e tornar malígno. Mas histórias podem também ser usadas para capacitar e humanizar. Histórias podem destruir a dignidade de um povo, mas histórias também podem reparar essa dignidade perdida.

A escritora americana Alice Walker escreveu isso sobre seus parentes do sul que haviam se mudado para o norte. Ela os apresentou a um livro sobre a vida sulista que eles tinham deixado para trás. "Eles sentaram-se em volta, lendo o livro por si próprios, ouvindo-me ler o livro e um tipo de paraíso foi reconquistado."

Eu gostaria de finalizar com esse pensamento: Quando nós rejeitamos uma única história, quando percebemos que nunca há apenas uma história sobre nenhum lugar, nós reconquistamos um tipo de paraíso.

Chimamanda Adichie

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Argumentação lógica e falácias

O filósofo, matemático e cientista americano Charles Sanders Peirce fala que as lógicas são “ferramentas para o raciocínio correto”.

Porém, quando uma discussão ou debate se concentra em encontrar um vencedor ao invés de elucidar um tema proposto, acabamos nos deparando com as falácias, que são argumentos logicamente inconsistentes ou sem fundamento, que podem parecer convincentes mas desviam ou ludibriam o assunto proposto.


Dessa forma, nem sempre o melhor argumento vence, mas aquele que melhor soube debater.



Veja abaixo os tipos de falácias apresentados no site https://yourlogicalfallacyis.com
. Saiba identifica-los e procure não comete-los para ser um bom argumentador!


Espantalho
Desviar um argumento para torná-lo mais fácil de atacar.

Ao exagerar, desvirtuar ou simplesmente inventar um argumento utilizando as colocações de sua contra-parte, fica bem mais fácil apresentar uma posição como razoável ou válida.

Exemplo: Depois de Felipe dizer que o governo deveria investir mais em saúde e educação, Jader respondeu dizendo estar surpreso que Felipe odeie tanto o Brasil, a ponto de querer deixar o nosso país completamente indefeso, sem verba militar.



Causa Falsa
Supor que uma relação real ou percebida entre duas coisas significa que uma é a causa da outra.

Este erro consiste em ignorar a possibilidade de que possa haver uma causa em comum para ambas, ou que as duas coisas em questão não tenham absolutamente nenhuma relação de causa, e a sua aparente conexão é só uma coincidência.

Exemplo: Apontando para um gráfico, Rogério mostra como as temperaturas têm aumentado nos últimos séculos, ao mesmo tempo em que o número de piratas têm caído; sendo assim, obviamente, os piratas é que ajudavam a resfriar as águas, e o aquecimento global é uma farsa.



Apelo à emoção
Manipular uma resposta emocional no lugar de um argumento válido ou convincente.

É importante dizer que às vezes um argumento logicamente coerente pode inspirar emoção, ou ter um aspecto emocional, mas a falácia acontece quando a emoção é usada no lugar de um argumento lógico.

Exemplo: Lucas não queria terminar a sua comida, mas seu pai o lembrou de todas as crianças famintas e pobres que não tinham a sorte de ter o que comer.



A falácia da falácia
Supor que uma afirmação está necessariamente errada só porque ela não foi bem construída ou porque uma falácia foi cometida.

Só porque alguém cometeu um erro na sua defesa do argumento, não necessariamente significa que o argumento em si esteja errado.

Exemplo: Amanda cometeu uma falácia ao defender que devemos comer alimentos saudáveis porque sua nutricionista disse que eles são populares, Alice então resolveu ignorar a posição de Amanda por completo e defender que, por tanto, devemos comer hambúrguer todos os dias.



Ladeira Escorregadia
Fazer parecer que o fato de permitirmos que aconteça A fará com que aconteça Z, e por isso não podemos permitir A.

O problema com essa linha de raciocínio é que ela evita que se lide com a questão real, jogando a atenção em hipóteses extremas. Como não se apresenta nenhuma prova de que tais hipóteses extremas realmente ocorrerão, esta falácia toma a forma de um apelo à emoção do medo.

Exemplo: Armando afirma que, se permitirmos casamentos entre pessoas do mesmo sexo, logo veremos pessoas se casando com seus pais.



Ad hominem
Atacar o caráter ou traços pessoais do seu oponente em vez de refutar o argumento dele.

Ataques ad hominem podem assumir a forma de golpes pessoais e diretos contra alguém, ou mais sutilmente jogar dúvida no seu caráter ou atributos pessoais. O resultado desejado de um ataque ad hominem é prejudicar o oponente sem precisar de fato se engajar no argumento dele ou apresentar um próprio.

Exemplo: Depois de Salma apresentar de maneira eloquente e convincente uma possível reforma do sistema de cobrança do condomínio, Samuel pergunta aos presentes se eles deveriam mesmo acreditar em qualquer coisa dita por uma mulher que já foi presa.



Tu quoque

Evitar ter que se engajar nos argumentos virando as próprias críticas contra o acusador responder críticas com outra crítica.

Literalmente significa “você também”, a implicação é que, independente da veracidade da acusação, essa falácia evita ter que reconhecer e responder a uma acusação contida em um argumento ao devolve-la ao acusador.

Exemplo: O político Aníbal foi acusado pelo seu oponente de ter desviado dinheiro público na construção de um hospital. Aníbal não responde a acusação diretamente e devolve insinuando que seu oponente também já aprovou licitações irregulares em seu mandato.



Incredulidade pessoal

Considerar que, por algo ser difícil de entender, ela não seja verdade.

Assuntos complexos como evolução biológica através de seleção natural exigem algum entendimento sobre como elas funcionam antes que alguém possa debatê-los adequadamente; esta falácia é geralmente usada no lugar desse entendimento.

Exemplo: Henrique desenhou um peixe e um humano em um papel e, com desdém efusivo, perguntou a Ricardo se ele realmente pensava que nós somos babacas o bastante para acreditar que um peixe acabou evoluindo até a forma humana através de, um monte de coisas aleatórias acontecendo com o passar dos tempos.



Alegação especial

Alterar as regras ou abrir uma exceção quando uma afirmação é exposta como falsa.

É geralmente bem fácil encontrar um motivo para acreditar em algo que nos favorece, e é necessária uma boa dose de integridade e honestidade genuína consigo mesmo para examinar nossas próprias crenças e motivações sem cair na armadilha da auto-justificação.

Exemplo: Eduardo afirma ser vidente, mas quando as suas “habilidades” foram testadas em condições científicas apropriadas, elas magicamente desapareceram. Ele explicou, então, que elas só funcionam para quem tem fé nelas.



Pergunta carregada
fazer uma pergunta que tem uma afirmação embutida, de modo que ela não pode ser respondida sem uma certa admissão de culpa.

Falácias desse tipo são particularmente eficientes em descarrilar discussões racionais, graças à sua natureza inflamatória – o receptor da pergunta carregada é compelido a se justificar e pode parecer abalado ou na defensiva.

Exemplo: Graça e Helena estavam interessadas no mesmo homem. Um dia, enquanto ele estava sentado próximo suficiente a elas para ouvir, Graça pergunta em tom de acusação: “Você melhorou com aquele tratamento para seus fungos, Helena?”



Ônus da prova
Esperar que outra pessoa prove que você está errado, em vez de você mesmo provar que está certo.

O ônus (obrigação) da prova está sempre com quem faz uma afirmação, nunca com quem refuta a afirmação. A impossibilidade, ou falta de intenção, de provar errada uma afirmação não a torna válida, nem dá a ela nenhuma credibilidade.

Exemplo: Beltrano declara que uma chaleira está, nesse exato momento, orbitando o Sol entre a Terra e Marte e que, como ninguém pode provar que ele está errado, a sua afirmação é verdadeira.



Ambiguidade
Utilizar duplo sentido ou linguagem ambígua para apresentar uma verdade de modo enganoso.

Políticos frequentemente são culpados de usar ambiguidade em seus discursos, para depois, se forem questionados, poderem dizer que não estavam tecnicamente mentindo. Isso é qualificado como uma falácia, pois é intrinsecamente enganoso.

Exemplo: Em um julgamento, o acusado de ter estacionado em lugar proibido responde a acusação dizendo que na placa estava dizendo: "Proibido estacionar na faixa amarela", e as rodas do meu veículo não estavam sobre a faixa amarela.



Falácia do apostador
Presumir que “sequências” acontecem em fenômenos estatisticamente independentes, como rolagem de dados ou números que caem em uma roleta.

Apesar da probabilidade geral de uma grande sequência do resultado desejado ser realmente baixa, cada lance do dado é, em si mesmo, inteiramente independente do anterior. Apesar de haver uma chance baixíssima de um cara-ou-coroa dar cara 20 vezes seguidas, a chance de dar cara em cada uma das vezes é e sempre será de 50%, independente de todos os lances anteriores ou futuros.

Exemplo: Uma roleta deu número vermelho seis vezes em sequência, então Gregório teve quase certeza que o próximo número seria preto. Sofrendo uma forma econômica de seleção natural, ele logo foi separado de suas economias.



Manada
Apelar para o fato de que muitas pessoas fazem ou concordam com aquilo, como uma tentativa de validação de um argumento.

A falha nesse argumento é que a popularidade de uma ideia não tem absolutamente nenhuma relação com a sua validade. Se houvesse, a Terra teria se feito plana por muitos séculos, pelo simples fato de que todos acreditavam que ela era assim.

Exemplo: Luciano, apontou um dedo para Jão e perguntou como é que tantas pessoas acreditam em duendes se eles são só uma superstição antiga e boba. Jão respondeu que, se tantas pessoas acreditam, é porque duendes de fato existem.



Apelo à autoridade
Acreditar que, por uma autoridade no assunto acreditar em algo, ela deve ser verdade. 

É importante entender que esta falácia não deve ser usada para desvalidar argumentos de peritos ou consensos científicos.  O apelo a autoridade acontece quando um argumento não pode ser afirmado como verdadeiro, e se utiliza a posição de sua fonte como motivo de sua veracidade.

Exemplo: Um professor se vê questionado por um aluno. E sem uma resposta convincente, o professor argumenta que tem mestrado e pós-doutorado e isso é mais do que suficiente para o aluno confiar nele.



Composição/Divisão
Presumir que o que é verdade para uma parte, deve ser aplicada a todas ou outras partes daquilo.

Muitas vezes, quando algo é verdadeiro em partes, isso também se aplica ao todo, mas é crucial saber se existe evidência de que este é mesmo o caso.

Já que observamos consistência nas coisas, o nosso pensamento pode se tornar enviesado de modo que presumimos consistência e padrões onde eles não existem.

Exemplo: Daniel era uma criança precoce com uma predileção por pensamento lógico. Ele sabia que átomos são invisíveis, então logo concluiu que ele, por ser feito de átomos, também era invisível. Nunca foi vitorioso em uma partida de esconde-esconde.



Não é um escocês verdadeiro…
Fazer o que pode ser chamado de apelo à pureza como forma de rejeitar críticas relevantes ou falhas no seu argumento.

Esta falácia é frequentemente utilizada como medida de desespero quando um ponto do argumento foi quebrado. Percebendo que uma crítica é válida, mas não querendo admitir isso, o argumentador apresenta um novo critério para dissociar outros ou até mesmo o próprio argumento.


Exemplo: Angus diz que escoceses não colocam açúcar no mingau, ao que Lachlan retruca que é um escocês e põe açúcar no mingau. Furioso, Angus diz que um “escocês de verdade” não põe açúcar no mingau.



Genética
Julgar algo como bom ou ruim se baseando em onde ela vem, ou de quem ele é.

Essa falácia tem a mesma função da Ad Hominem, mas se aplica as percepções sobre a fonte ou o contexto de algo.


Exemplo: Acusado no Jornal Nacional de corrupção, o senador responde que devemos ter muito cuidado com o que ouvimos na mídia, já que todos sabemos como ela pode não ser confiável.



Preto-ou-branco

Quando apenas duas alternativas são apresentadas, quando de fato existem outras.

Também conhecida como falso dilema, esta tática aparenta estar formando um argumento lógico, mas sob análise mais cuidadosa fica evidente que há mais possibilidades além das duas apresentadas.

Exemplo: Ao discursar sobre o seu plano de mudanças nos direitos do cidadão, o Líder Supremo falou ao povo que ou eles estão do seu lado, ou do lado do inimigo.



Suplicar a pergunta
Um argumento circular onde a conclusão já está incluída na premissa.

Este argumento logicamente incoerente geralmente surge em situações onde as pessoas têm crenças bastante enraizadas, e por isso consideradas verdades absolutas em suas mentes. Racionalizações circulares são ruins principalmente porque não são muito boas.

Exemplo: A Palavra do Grande Zorbo é perfeita e infalível. Nós sabemos disso porque diz aqui no Grande e Infalível Livro das Melhores e Mais Infalíveis Coisas do Zorbo Que São Definitivamente Verdadeiras e Não Devem Nunca Serem Questionadas.



Apelo à natureza
Argumentar que, porque algo é “natural”, ele é válido, justificado, inevitável ou ideal.

Muitas coisas naturais são consideradas boas, e isso pode balizar nosso pensamento; mas a naturalidade por si só, não faz das coisas boas ou ruins. O assassinato por exemplo, pode ser considerado algo natural, mas isso não faz dele justificável.

Exemplo: O curandeiro chegou na cidade em sua carroça cheia de remédios da tribo, incluindo garrafas de Água Pura Muito Especial, dizendo que todos eram naturais e que as pessoas deveriam desconfiar de remédios “artificiais”, como antibióticos.



Anedótica
Usar uma experiência pessoal ou um exemplo isolado em vez de um argumento sólido, especialmente para descartar estatísticas.

É mais fácil para as pessoas simplesmente acreditarem no testemunho de alguém do que tentar entender dados complexos e variações dentro de um continuum. Medidas científicas e estatísticas são quase sempre mais precisas do que percepções e experiências individuais.


Exemplo: José disse que o seu avô fumava 30 cigarros por dia e viveu até os 97 anos — então não acredite nessas meta análises que você lê sobre estudos metodicamente corretos provando relações causais entre cigarros e expectativa de vida.



O atirador do Texas
Selecionar apenas os dados que corroboram com o seu argumento, ou encontrar um padrão que encaixe como presunção.

Esta falácia da “falsa causa” ganha seu nome a exemplo de um atirador que dispara aleatoriamente contra a parede, e, na sequência, pinta um alvo ao redor da área com o maior número de buracos, fazendo parecer que ele tem ótima pontaria. 

Agrupamentos como esse aparecem naturalmente por acaso, mas não necessariamente indicam que há uma relação causal entre eles.

Exemplo: Os fabricantes de uma bebida açucarada apontam pesquisas que mostram que, dos cinco países onde a sua bebida é mais vendida, três estão na lista dos dez países mais saudáveis do mundo, logo, sua bebida açucarada é saudável.



Meio-termo
Declarar que um acordo entre as partes, ou um ponto mediano entre dois extremos deve ser a verdade.

Em muitos casos, a verdade pode realmente estar entre dois pontos extremos, mas isso pode enviesar nosso pensamento: as vezes uma coisa simplesmente não é verdadeira, e um meio termo dela também não é verdadeiro. O meio termo entre uma verdade e uma mentira continua sendo uma mentira.

Exemplo: Clara diz que a vacinação causa autismo em crianças, mas o seu amigo que entende de ciências disse que essa afirmação já foi derrubada como falsa, com provas. Então uma amiga dos dois ofereceu um meio-termo: talvez as vacinas causem um pouco de autismo.



terça-feira, 12 de agosto de 2014

Joe Burger

Nova hamburgueria na região da Saúde em São Paulo! 



O Joe Burguer é uma hamburgueria no estilo americano dos anos 60, 70 e 80, lanches de primeira qualidade, receitas originais e um cardápio com grande variedade de bebidas, entradas e milk shakes! Nós desenvolvemos o primeiro cardápio da loja e um folder de inauguração. Vamos avançar o projeto com um novo site, em breve um novo cardápio e toda comunicação visual do Joe! 

Veja os materiais e projetos desenvolvidos para o Joe:

Cardápio Fechado e Cardápio Aberto

Folder de Divulgação
Projeto Para o Novo Site

Se você gosta de hambúrguer e de qualidade, O Joe é uma boa opção!

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Sonhos

Eu rumino diversos planos para ter um negócio próprio, colocar todo meu conhecimento e ideias a favor de algo que seja do meu jeito, com a minha filosofia. Mas o que me instiga é ter um lugar onde eu queira estar sempre, que eu queira viver aquilo, independente do quanto dinheiro vou ganhar com isso, e dentre estes existe um preferido, que deixarei oculto para sua identificação.




Tem dias em que eu consigo viver o ambiente em minha mente, sentir o clima de uma manhã de sol, o cheiro de café pairando sobre folhas de árvore, construir em pensamento cada detalhe na mobília, a música do ambiente, as pessoas do local, sonhos.

Motivado, comecei a estudar a ideia, entender o funcionamento, as dificuldades, necessidades e tudo o que cerca esse mercado. Em um fórum encontrei pessoas discutindo exatamente a vontade de ter uma empresa como esta, e um comentário me chamou atenção, era um cara com um sonho parecido com o meu, mas decidido a continuar em seu emprego no governo, estável, por saber que tudo era apenas um sonho, que esse mercado é muito difícil, a lucratividade é apertada e poucos sobrevivem.

Me pergunto, quanto vale toda essa segurança e racionalidade? Quanto vale uma vida confortável, conformada? Quanto vale um sonho? Quanto vale todo esse medo?

Em algum lugar arrancaram nossa capacidade de sonhar como crianças, de viver o que queremos viver, de correr atras de uma felicidade besta e sincera, e quem sabe ao correr, tropeçar nas próprias pernas e se esborrachar no chão. Seria melhor então, ouvir a voz adulta da razão que grita: não corre menino! Você vai se machucar!

São escolhas, valores opostos, igualmente válidos. Tudo depende da vida que você quer viver.

Me lembro de um ditado chinês: "Melhor um único dia de tigre, do que mil anos como cordeiro."

Ps.: Encontrei a mesma citação no texto de uma mulher que assina Pelicano, no Uol Pensador...internet, pff.

Escolho viver como tigre, e quem sabe, um pouco mais que um dia!

quarta-feira, 14 de maio de 2014

Comunicação não-violenta

“Não pense que o que diz é empatia. Assim que pensa que o que diz é empatia, estamos distantes do objetivo. Empatia é onde conectamos nossa atenção, nossa consciência, não o que falamos.” – Marshall Rosenberg


A violência silenciosa

Podemos passar uma vida inteira com uma sensação de vazio, vivendo de forma apática, fria e superficial, mas completamente crédulos de que está tudo bem.

Muitas pessoas passam uma vida inteira se comunicando de maneira desconsiderada ou até mesmo violenta, sem que se deem conta disso. Acabam, por consequência, não estabelecendo relações significativas e íntimas e acham que está tudo bem, que é assim mesmo.

Como resultado, podem surgir camadas internas de ressentimento, raiva e frustração, pois a pessoa nunca se sente realmente parte de algo enriquecedor.


A definição de Comunicação Não-Violenta(CNV) nos diz que ela:

“…é baseada nos princípios da não-violência – o estado natural de compaixão quando a não-violência está presente no coração.

CNV começa por assumir que somos todos compassivo por natureza e que estratégias violentas – se verbais ou físicas – são aprendidas ensinadas e apoiadas pela cultura dominante.

CNV também assume que todos compartilham o mesmo, necessidades humanas básicas, e que cada uma de nossas ações são uma estratégia para atender a uma ou mais dessas necessidades.”



Origem da CNV

“A não-violência significa permitirmos que venha à tona aquilo que existe de positivo em nós e que sejamos dominados pelo amor, respeito, compreensão, gratidão, compaixão e preocupação com os outros em vez de sermos pelas atitudes egocêntricas, egoístas, gananciosas, odientas, preconceituosas, suspeitosas e agressivas que costumam dominar nosso pensamento. (…) O mundo em que vivemos é aquilo que fazemos dele” - Arun Gandhi (neto de Gandhi e fundador do Instituto Gandhi pela Não-violência)

Quando o psicólogo americano Marshall Rosenberg tinha 9 anos precisou ficar trancado por 3 dias em casa com sua família por conta de um conflito racial que eclodiu na sua vizinhança, em Detroit, culminando na morte de quarenta pessoas.

Já formado, começou a pesquisar os fatores que afetam a capacidade humana de se manter compassivo. Por conta disso, caiu imediatamente no papel crucial da linguagem e do uso das palavras e desenvolveu uma abordagem específica de comunicação (falar e ouvir) – que permita uma conexão maior entre as pessoas para que a compaixão possa emergir, mesmo em situações críticas.

Ele vem realizando um trabalho de conscientização em mais de 65 países, proferindo palestras em locais de conflito e guerra como na Cisjordânia, Ruanda, Croácia e Belgrado.

No entanto, a comunicação não-violenta pode ser aproveitada por todas as pessoas, não somente aquelas que lidam com situações de conflito ou que atravessam um impasse com alguém significativo.

Ela exige bastante prática, esforço, paciência, dedicação e envolvimento genuíno.

Objetivo da Comunicação não-violenta

“O que almejo em minha vida é compaixão, um fluxo entre mim e os outros com base numa entrega mútua, do fundo do coração.” –Marshall Rosenberg

A CNV essencialmente busca a pacificação de uma guerra cotidiana, já que nos habituamos a expressar o que queremos de forma impositiva e desatenta.

É muito comum as pessoas expressarem certo tédio, tristeza, raiva ou frieza no dia-a-dia, sem notar que cultivam uma nociva desconexão e lentamente passam a não ver sentido em suas conversas, encontros e eventos sociais.

Apesar de sentirem um clima de cinismo, falsidade e hipocrisia generalizada, essas pessoas não conseguem identificar em si mesmas a alienação emocional que condenam nos outros.

A CNV tem o objetivo de resgatar o que há de mais genuíno nas pessoas: suas emoções, valores e a capacidade de se expressarem com honestidade, ajudando os outros com real empatia – ou seja, mergulhando nas verdadeiras necessidades do outro e não em sua vontade de parecer altruísta.


As motivações ocultas da comunicação

“A arte de fazer a vida significativa e bela, o que envolve a descoberta de conexões entre o que parece não ter conexões, unindo pessoas e lugares, desejos e memórias, através de detalhes cujas implicações passaram despercebidas.” –Theodore Zeldin

Ao conversar sobre qualquer assunto o que mais idealizamos, sem saber, é criar algum tipo de troca e escuta saudável. Ninguém quer um relacionamento truncado, aflitivo e cheio de problemas.

Muitas vezes não conseguimos e aumentamos o abismo psicológico entre nós e os outros.

Usamos termos agressivos, palavrões, ataques desproporcionais, acusações e trocas de argumentos falaciosos para chegar ao final de uma conversa com a sensação de soberania.

Basta reparar como as pessoas falam com suas mães, alvo usual de descarga emocional. O resultado de longo prazo é que depois de muito tempo de convívio já não sentimos aquela vibração ou conexão inicial estimulante.

A comunicação usual que estabelecemos é cheia de ruídos, vindos também de uma dificuldade pessoal em se abrir de forma vulnerável e em atingir a pessoa na necessidade delicada de ser apreciada.


Velhos hábitos, grandes danos, raízes profundas… compaixão

“Para além das ideias de certo e errado, existe um campo. Eu me encontrarei com você lá.” –Rumi

A maioria das bases educacionais e morais que conhecemos é violenta. Ao estabelecer noções rígidas de certo e errado, estabelecemos também as ideias implícitas de mérito e punição.

A educação formal, familiar e a cultura ( educação) nos arrastam para julgamentos moralizadores como culpa, insulto, depreciação, rotulação, crítica, comparação e diagnósticos, ou seja, uma linguagem rica em palavas que classificam e separam as pessoas e seus atos em dois grupos: os privilegiados e os excluídos.

Comentários que resultaram no texto “Por que transformamos tudo em zoeira?”

Essa linguagem de coerção, ameaças e chantagens faz com que as pessoas expressem cada vez menos boa vontade, ainda que se submetam aos valores expostos.

Pois ao aceitá-los, internalizaram também culpa, medo, ressentimento e vergonha.

Ou seja, mesmo que os valores apresentados sejam coerentes, as pessoas tendem a se afastar deles ou de sua origem, pois foram impostos.

Nossa linguagem habitual vem dos mesmos locais, compartilha dessa raiz que busca dominar e convencer. E não se conectar e se relacionar.

Mais, nossa linguagem usual também tende a nos esconder da responsabilidade por nossas ações, nos desconectando de nossos atos e das pessoas em volta.

Alguns exemplos nos quais ameaçamos e chantageamos:

“Eu fui com você aquele dia numa festa e agora você se nega a ir comigo. De verdade, só nunca mais peça nada para mim!”

“Eu sou sua mãe e sei o que é melhor para você. Se fizer isso causará uma decepção profunda no meu coração”


Exemplos nos quais não assumimos a responsabilidade:

“Não tinha como fazer diferente, meu chefe me obrigou.” (autoridade)

“Fiz isso porque me deu tesão, sou uma pessoa muito instintiva.” (justificado por impulso)

“Sou assim por causa da minha infância/mãe/pneumonia/depressão.” (condição psicológico ou patológica)

“Bati nele porque me procovou.” (ação do outro)


* * *
Gostaria de apresentar as principais ferramentas que a CNV oferece, e que certamente são muito mais que técnicas para manipular situações de guerra, conflitos internacionais ou brigas de gangues, apesar de serem extremamente úteis nessas situações-limite.

Para facilitar o processo de comunicação, Marshall Rosenberg identificou 4 componentes para diminuir a nossa posição defensiva e criar um espaço receptivo aos outros.

Os quatro componentes da comunicação não-violenta

1. Como se expressar com honestidade

1.1. Observar: de maneira descritiva e não julgadora


Aparentemente nos consideramos ótimos observadores da realidade, mas não percebemos a sutil diferença em afirmar, “fulano é um babaca” e “quando fulano fala alto e usa xingamentos me sinto acuado e com medo”.

No primeiro caso, estamos fazendo uma observação carregada de adjetivos que transformam um retrato particular numa história taxativa de como uma pessoa age se detendo nas aparências, sem oferecer empatia.

Além do mais, o autor da frase negligencia sua profunda necessidade e reage ao que sente diante daquela ação e despeja sobre o outro sua fúria.



A observação da CNV procura descrever o fato sem generalizações ou exageros linguísticos como “sempre”, “nunca”, “jamais”.

Exemplo:

– Porra, cara, você nunca vem nas minhas festas, hein!

Seria, pela CNV:

– Porra, cara, você só veio duas vezes esse ano nas minhas festas. E sinto saudade da sua presença!


É quase uma linguagem textual que coloca a comunicação num nível bem próximo do que aconteceu.

Ao contrário do julgamento que cria uma reação defensiva e cheia de culpa, a avaliação tem o efeito de aproximar as pessoas porque não taxa ou fecha alguém num adjetivo.

Além do mais, evita o discurso carregado de culpa, merecimento ou punição que tanto utilizamos ao avaliar uma pessoa.

1.2. Sentimento: como nos sentimos em relação ao que estamos observando?

Nosso repertório sentimental é muito escasso, normalmente expressamos sentimentos como “um troço no peito” ou “sinto como se você me odiasse”. Nos dois casos não há nenhuma descrição efetiva de sentimento.

No primeiro, falamos de uma sensação física inespecífica e no segundo falamos de um pensamento seguido de um julgamento sobre o outro.

Talvez fosse mais exato falar em “me sinto angustiado” ou “me sinto triste quando diz que vai embora de casa”.

Além do pouco que conhecemos sobre sentimentos, ainda existe o agravante de os considerarmos um sinal de fraqueza.

A CNV estimula uma forma de expressão reveladoramente emocional, mesmo que se corra o risco de ser visto como fraco. Dialogar a partir de um sentimento desarma uma contra-reação hostil.


Como rebater alguém que acabou de expressar que se sente triste diante de nossa desonestidade? Poderíamos tentar justificar alguma coisa, mas o sentimento do outro ainda estaria lá diante de nós.

Exemplo de uma namorada falando com seu parceiro:

– Ontem você me contou para onde tinha ido com seus amigos e logo depois eles me enviaram um torpedo dizendo que estão com saudades [fato descritivo]. Me sinto muito desestimulada e triste [sentimento] a seguir no relacionamento dessa forma, na qual as informações são desencontradas e contraditórias [sem acusação, só um retrato]. Portanto, peço que seja mais claro e honesto [necessidade profunda] ao falar sobre suas intenções quando sai de casa sem mim [pedido específico de um comportamento, não genérico].

Nossos sentimentos resultam de como escolhemos receber as ações e falas dos outros.

Segundo a CNV, podemos reagir de quatro formas a uma mensagem negativa – a algo como “você é um egoísta”:

a) Culpar a nós mesmos.
Quando tomamos algo como pessoal e com isso diminuimos o valor do que fizemos com uma aparente autoreflexão, que não vai muito além do martírio.

A reação seria:
“Oh, me perdoe, eu deveria ser mais sensível, que estúpido que eu fui.”

Aparentemente isso parece sensato, mas o custo disso é a agressividade dessa postura consigo mesmo, não há o que ser feito após uma condenação dessas, a pessoa usa de linguagem violenta ao se punir. Esse hábito normalmente é estendido para os outros.

b) Culpar os outros.
Aqui tentamos reverter a culpa sobre a outra pessoa.

“Você está sendo implacável comigo, tenho me dedicado tanto a esse relacionamento!”

Nesse caso, além de não abrir espaço para ouvir o que a pessoa diz, ainda estabelecemos barreiras para que se continue o diálogo. Ao pedir que o outro nos entenda, estamos pouco próximos da dor que ela sente ao nos chamar de egoísta, reage-se com uma nova postura de quem só pensa em si mesmo.

c) Escutar nossos próprios sentimentos e necessidades. 
Aqui já criamos uma maior consciência de nossos sentimentos pessoais sobre aquele fato específico.

“Quando diz que sou egoísta me sinto constrangido comigo, pois sinto necessidade de ser querido e apreciado por você e ouvir isso me faz refletir.”

d) Escutar os sentimentos e necessidades dos outros. 
Aqui viramos o foco para o que a outra pessoa necessita e nos pede (sem saber que pede).

“Quando diz que sou egoísta imagino que queira mais consideração com suas vontades e preferências, é isso?”

Nesse caso, poderia parecer um ato de condescendência, mas esta rotularia o outro como fraco, quando nesse caso estou tentando clarear as expectativas do outro em relação a mim para abrir a conversa sem contra-ataques.


* * *
O ponto crucial em lidar com conflitos é assumir 100% de responsabilidade por nossos sentimentos, pois as situações externas e pessoas são apenas gatilhos para reações internas hostis.

Sempre temos plena liberdade para reagir de formas diversas. Afirmar que “bati em você porque me provocou” é uma forma de isenção de responsabilidade.

Seria mais preciso dizer “bati em você porque cedi a raiva diante do que falou”.

1.3. Necessidades: quais valores e desejos geram nossos sentimentos?

Quando nos comunicamos a partir de nossas necessidades, sentimentos e desejos, temos mais chance de ser atendidos do que quando usamos julgamentos e avaliações.

Se queremos uma reação compassiva devemos oferecê-la primeiro.

Julgar é dar um tiro no próprio pé, cria fechamento e reatividade.

Ao invés de pensar no que está errado na situação ou na pessoa, podemos pensar sobre quais necessidades queremos ver atendidas. São muitas as necessidades ocultas que carregamos. E as reivindicamos sem notar que fazemos, mas de uma maneira que não fica claro para quem fala e quem ouve.

Autonomia, lazer, celebração (luto, festa), integridade (honestidade, sinceridade, escolha, autenticidade), comunhão (aceitação, calor humano, compreensão, admiração, empatia, encorajamento), necessidades físicas (sono, fome, frio, movimento físico, toque, espaço, saúde), conexão (mutualidade, consideração, integração, confiança, abrigo), enlevamento (alegria, inspiração, harmonia), pertencimento (inclusão, igualdade, contribuição, respeito, compreensão) aprendizagem, paz, diversidade, criatividade, iniciativa, facilidade, comunidade, liberdade, beleza, suporte, presença, cuidado, bem-estar, proteção, clareza, estabilidade, ordem, independência, expressão sexual.

Essa lista de necessidades não é nem exaustiva, nem definitiva. Destina-se como um ponto de partida para apoiar quem deseja envolver-se em um processo de aprofundamento da autodescoberta e facilitar uma maior compreensão e conexão entre as pessoas.

A lista seria enorme, mas o importante é você identificar e ter clareza do que precisa para que o outro tenha chance de reforçar e valorizar isso.

1.4. Pedidos: claros e específicos

Aparentemente conseguimos forçar as pessoas a fazerem coisas que sejam de nossa vontade, principalmente quando um pedido oculta uma exigência ameaçadora. Mas isso tem um preço.

Uma exigência implica que a pessoa se submeta ou se rebele e isso afasta os outros de uma conexão genuína. Afinal, se ela recusa a exigência corre o risco de ser punida.

Quando fazemos pedidos claros e específicos temos mais chance de ser atendidos. A primeira dica é falar de modo que deixe claro o que você quer e não aquilo que não quer.

“Não quero que grite” é um não-pedido. Seria melhor pedir “que fale num tom mais baixo”.

Ao invés de dizer “não quero que me deixe sozinha”, seria mais preciso “quando saímos com os seus amigos, me sinto mais confortável quando permanece ao meu lado”.
Pedir “justiça” é algo vago e tão extenso quanto “me dê espaço para ser eu mesma”.

É fundamental ter clareza do que necessita ao invés esperar que alguém adivinhe seu desejo só por suspirar de um certo modo. Ações objetivas são mais compreensíveis e menos confusas. Caso não fique claro para o outro, cheque com ele se entendeu o pedido ou refaça de outro modo, com tranquilidade.

“Quero que me deixe ser quem sou” é inespecífico e abstrato, seria mais preciso e observável “gostaria de estudar na faculdade que escolhi, cantar sem ser repreendido, poder escolher e responder pelos meus horários e atitudes”.

Tente se comunicar quase visualmente, de modo que qualquer pessoa possa entender.

“Quero te conhecer melhor” é inespecífico, ao passo que “gostaria de sair para almoçar com você e conhecer mais seus gostos e sonhos”.

2. Como ajudar os outros e ouvir com verdadeira empatia

“Uma mensagem difícil é uma oportunidade de enriquecer a vida de alguém.” –Marshall Rosenberg

A forma como nos sentimos impotentes diante do luto de uma pessoa querida reflete a maneira enganosa que tentamos ajudar os outros. Partimos da ideia que as pessoas querem receber algum tipo de conselho salvador ou algo que resolva e “conserte” seu problema.

Como aconselhar os outros quando se trata de vida e morte?

A postura usual aparentemente caridosa cria um tipo de hierarquia na relação (quem sabe-quem ignora), ao mesmo tempo que rompe com um fluxo emocional importante de quem expressa sua dor.

O próprio ajudador se vê forçado a aplacar ansiosamente a dor, ficando impedido de estar presente e ouvindo com total disponibilidade emocional.

Para encontrar uma forma de comunicação genuína, é preciso interromper o fluxo de nossos pensamentos habituais e oferecer uma escuta atenta.

O maior sinal de que alguém realmente foi ouvido com empatia é quando a tensão de suas palavras diminui e ela pode parar de falar e se sentir considerada e mais relaxada sem achar que precisa fazer ou aprender algo.

Só uma pessoa que recebeu empatia e está suficientemente atendida em suas necessidades é capaz de oferecer algo de si para os outros sem impor a si mesma sobre quem ajuda. Se você não se sente aceito, amado e respeitado em suas relações é bem provável que tenha mais dificuldade em acolher os outros com isenção de imposições.

Alguém que esteja abafado por sua própria dor costuma colocar-se a frente dos outros na hora de ajudar.

Aqui seguem alguns exemplos de tentativas de ajuda que surgem de uma pessoa que não está preenchidas em suas próprias necessidades:

Aconselhar: “você deveria” (imposição de perfeição)
Competir pelo sofrimento: “comigo foi até pior, nem imagina…” (quer subestimar a dor do outro e reverter a posição de vítima)
Educar: “que aprendizado pode tirar dessa situação?” (quer catequizar)
Consolar: “você fez o melhor que pôde” (tenta racionalizar uma dor)
Contar uma história: “isso lembra uma história que ouvi” (desviar o foco para uma lição de moral)
Encerrar o assunto: “fica bem tá?” (desvia da dor pela própria dificuldade em lidar com ela)
Solidarizar-se: “oh, meu deus, coitado” (postura infantilizante)
Interrogar: “já pensou que essa pessoa não quis dizer aquilo?” (tenta investigar motivações intelectuais ocultas para afastar da dor emocional)
Explicar-se: “eu no seu lugar teria já feito…” (colocar-se em forma superior)
Corrigir: “você não entendeu nada do que aconteceu, está errada também” (criar culpa)

3. Compaixão consigo mesmo

Sabe o que existe em comum no sentimento que temos ao nos apaixonar, conquistar algo valioso ou de atingir um estado psicológico de esperança ou liberdade?

Um estado de abertura irrestrita para o novo sem culpa, vergonha ou avaliações destrutivas sobre o que somos.

Ao dizer “eu errei” imediatamente entramos numa postura de auto-acusação sem nos dar a chance de mergulhar na dor decorrente de uma expectativa ou necessidade frustrada.

A ideia de que deveríamos ser assim ou assado impõe um estado psicológico de obrigatoriedade e tensão. O tempo verbal do “deveria” pressupõe aprisionamento, falta de escolha e desprazer, já uma escolha feita em sintonia com um valor específico dá prazer colocar em prática.

Curiosamente, no cotidiano temos pouca compaixão com nossas atitudes quando se trata de agir de um jeito que contrariou nossas expectativas. Chamamos isso de erro, e entramos num mar de auto-acusação. Falta carinho com o desempenho duvidoso e inevitável de nossa biografia.

A mesma comunicação não-violenta que utilizamos ao tentar ouvir as necessidades dos outros pode ser aplicada ao fazer uma auto-análise. Diante de um “erro”, ao invés de cair no ciclo de acusações, podemos nos perguntar que tipo de necessidade não foi atendida.

Um homem chega tarde do trabalho e a esposa o acusa de colocar tudo a perder no casamento dizendo que está cansado desses atrasos.

O diálogo interno que se segue costuma ser implacável.

– Eu deveria ter me imposto para o meu chefe, mas sou um covarde, faz 10 anos que trabalho ali e ajo sempre do mesmo jeito. Que desastre ambulante.

Uma outra forma de seria assim:

– Quis mais uma vez agradar meu chefe e parecer eficiente, gosto de ser visto como alguém insubstituível, ao mesmo tempo estou com medo de perder o emprego e decepcionar minha esposa. De outro lado ela tem razão, quem aguentaria tantas noites sem uma companhia, ela está pedindo meu amor e presença. Como posso conciliar meu desejo de ser capacitado profissionalmente ao mesmo tempo que quero passar mais tempo com minha família?

É possível perceber que ao invés de entrar numa “solução” simples de auto-acusação ele identificou quais eram as forças em jogo e se colocou numa posição de alinhamento com seus valores contraditórios e os da esposa.

4. Raiva

“As pessoas que parecem monstros são apenas seres humanos cuja linguagem e comportamento às vezes nos impedem de perceber sua natureza humana.” –Marshall Rosenberg

Diante de uma pessoa que age de forma raivosa ou descontrolada, não notamos que ela está se sentindo completamente incapaz de fazer pedidos claros e se conectar com sua própria dor.

Uma pessoa que projeta uma imagem “durona” costuma estar paralisada pelo medo de ser vista como vulnerável e perder autoridade ou controle.

A raiva costuma ser resultado de uma necessidade não atendida associada a uma interpretação distorcida de um fato. Ao se irritar com um amigo pelo atraso, lembre-se que não é o atraso apenas que causou a raiva, mas o desapontamento de não se sentir respeitado em sua presença.


Longe de ser irracional, a raiva é determinada pelas imagens e interpretações feitas por nós das ações dos outros – tendo como referência nossa idealização do que seria justo.

Se uma criança da família pisa no seu pé, será avaliada com mais condescendência se comparada a um adulto estranho, já que vai pressupor que ele deveria estar olhando, atento, preocupado, cuidadoso e educado. Não é o pisão no pé que estritamente criou a raiva, mas a necessidade de que adultos sejam corretos com você.

Quando expressamos raiva, gastamos uma energia enorme em punir alguém e não focamos em atender as nossas necessidades. Ao mesmo tempo usamos julgamentos, análises e ideias conspiratórias de que os outros são maus, mentirosos, irresponsáveis, corruptos e gananciosos.

Certamente alguém que nos ouça nesse estado emocional não irá se interessar pelas nossas necessidades, mas apenas reagir com indiferença e hostilidade.

Quando se sentir prestes a explodir, experimente:

1. Parar e respirar profundamente
2. Identificar os próprios pensamentos, em especial aqueles julgadores
3. Conectar-se às próprias necessidades, escondidas por trás da raiva
4. Expressar seus sentimentos e necessidades não-atendidas


Marshall dá o seguinte exemplo, em seu livro “Comunicação não-violenta”, de como reagir a um atitude de discriminação racial:

“Quando você entrou nessa sala, começou a conversar com os outros, não falou nada comigo e então fez um comentário sobre brancos, fiquei realmente enojado e muito assustado. Isso despertou em mim todo tipo de necessidade de ser tratado com igualdade. Eu gostaria que você me dissesse como se sente quando digo isso.”

Seria difícil um conflito ganhar força diante de tal postura.

Mas o que fazer quando somos nós o alvo da raiva?

Uma possibilidade de lidar com a raiva de alguém seria identificando qual o pedido implícito no esbravejamento, fazendo perguntas empáticas:

“Queria entender melhor, como você se sente a respeito disso?”

“Gostaria de ouvir seus reais sentimentos em relação a tal coisa…”


Reforçando assim a conexão com suas necessidades profundas e deixando cada vez mais claro o que a pessoa quer, ao invés de entrar num embate intelectual.

Fonte: http://papodehomem.com.br/comunicacao-nao-violenta-o-que-e-e-como-praticar/

terça-feira, 6 de maio de 2014

O clima te afeta mais do que você imagina

Todo mundo adora um dia ensolarado – a não ser que você seja um vampiro, um cogumelo ou algo assim – e perde um pouco a vontade de viver quando se depara com uma manhã fria e cinzenta. Ok, isso é meio que conhecimento geral, mas a realidade é que a luz do sol possui um papel muito maior no dia a dia da sociedade do que você provavelmente imagina.

Você já fez uma compra incrivelmente estúpida, como um par de cuecas com entrada USB, e depois de um tempo ficou se perguntando como foi possível ter sido convencido a adquirir tal produto? Isso provavelmente aconteceu em um dia ensolarado. Estudos descobriram que um clima agradável pode prejudicar a sua capacidade de julgamento, torná-lo temporariamente mais burro e mais suscetível a ser enganado.


Em um estudo, 122 estudantes foram abordados em dias ensolarados ou nublados e tiveram a tarefa de preencher uma pesquisa sobre um assunto urgente. Em dias de sol, os alunos foram mais facilmente persuadidos por argumentos fracos, como se o clima agradável de fato fosse capaz de nos fazer sentir mais positivos e otimistas em relação a tudo.

Você obtém os mesmos resultados quando tenta convidar alguém para sair com você. Em outro experimento, os pesquisadores pediram para homens atraentes aleatórios abordarem 500 mulheres em dias nublados e em dias ensolarados para convidá-las a sair à noite para beber. Como esperado, as mulheres se mostraram mais receptivas e aceitaram mais convites nos dias de sol do que nos nublados.

E essa história fica cada vez mais estranha. Se você é garçom, tente desenhar um pequeno sol na parte inferior da conta do seu cliente. É isso mesmo: basta ver o desenho de um sol que as pessoas ficam instantaneamente mais generosas e dão gorjetas maiores – independentemente se o sol está realmente brilhando lá fora ou não.

Mas espere, ainda há mais: os pesquisadores também notaram que as bolsas de valores são especialmente ativas em dias ensolarados. E não é apenas a Wall Street – eles rastrearam as 26 principais bolsas de valores ao redor do mundo ao longo de 15 (!) anos e encontraram o mesmo padrão. A razão vem do mesmo fator psicológico do tempo bom: os comerciantes, por mais conservadores que sejam, se sentem mais dispostos a assumir riscos, porque, afinal, está um dia tão bonito lá fora! Nada pode dar errado em um dia tão bonito.


Fonte: http://ahduvido.com.br/5-coisas-interessantes-que-podem-manipular-seu-humor-diariamente